NÃO É FAKE NEWS – O estudante de Medicina Veterinária, Rafael Geber Leão, é acusado de espancar e tentar matar sua ex namorada de 23 anos, que está grávida.

“Medo de continuar minha vida e ele aparecer e estragar tudo, querer me bater ou me matar’’, esse tem sido o receio diário de T. R., que mostrou ao Radar machucados por todo o corpo que seriam consequência do espancamento que sofreu até perder a consciência, no último domingo (27). A jovem é mais uma vítima de tentativa de feminicídio no Amazonas. Em entrevista exclusiva ao Radar, a jovem de 23 anos revela os momentos de terror que viveu nas mãos do ex-companheiro, Rafael Leão Geber, que quase lhe custou a vida e a do bebê que está esperando há três meses. As agressões ocorreram no período de quatro dias, entre a última quinta-feira (25) e domingo (27).

Mas antes de chegar ao ponto extremo das agressões, R. explica como a relação do casal se construiu durante os oito meses que estiveram juntos. De acordo com a vítima, ele quem tomou iniciativa com paqueras nas redes sociais.
“Eu nunca tinha visto ou ouvido falar dele. Ele começou a comentar minhas publicações e depois conversamos. Tudo estava normal”, disse.
Uso abusivo de drogas
Após esse processo de aproximação, começou o romance. Tudo fluiu de maneira comum, até o quinto mês, quando ela começou a perceber o abuso de entorpecentes pelo parceiro e as brigas começaram.
No início, ao descobrir o uso de drogas, ela preferiu não se envolver, mas chegou um ponto que a situação se tornou insustentável.
“Eu preferia que ele não me envolvesse. Pedia para ele não ficar perto de mim quando estivesse usando, tinha medo de ele ter uma overdose.”
Além disso Rafael era muito ciumento, quando saiam juntos, brigava com R. devido a olhares que ela recebia de outras pessoas. “Ele se transformava quando estava com ciúmes, ficava dando murros na parede na minha frente, isso me assustava porque ele estava se agredindo”.
Essa situação se somou com a das drogas e foi aí que a vítima pôs um ponto final na relação.
“Eu terminava e ele não aceitava. Eu dizia que não queria mais ficar com ele e no mesmo momento o comportamento dele mudava, ficava me chamando de meu bem e meu amor”.
Depois disso, apesar de separados, eles mantinham contato devido à gravidez. E nesse contexto, foi quando ela se aproximou da mãe de Rafael, que se ofereceu para ajudá-la nos exames da gestação.
“Me levou pro quarto dele e começou a me agredir”
Em uma dessas idas ao laboratório, a mãe dele acabou levando Rebecca para a própria casa, onde também mora Rafael, localizada no bairro Parque 10, zona Centro-Sul de Manaus. Na ocasião, ela pediu para a gestante aguardar o filho chegar para levá-la ao bairro Gilberto Mestrinho, zona Leste, onde mora com um primo. Foi aí que ele a violentou pela primeira vez, na última quinta-feira.
R. revela que o episódio aconteceu após uma discussão. Ela teria chamado atenção de Rafael, pois ele estava fazendo curativo no gato sem nenhum cuidado. “Eu disse que o animal estava miando muito e que ele devia fazer isso com mais delicadeza.”, em resposta ele disse que “era um animal, e por isso, não sentia dor”.
Mas após isso, para evitar se estressar e prejudicar o bebê, ela solicitou uma corrida de carro através de aplicativo. E na hora que ela tentou sair, ele correu, a ultrapassou e fechou o portão e pegou a bolsa dela com documentos e dinheiro para evitar que ela saísse.
“Ele ficou desesperado, não me deixou sair, e ficou questionando se não teríamos mais nenhum contato. Eu disse ser melhor e para nos resolvermos na justiça. Ainda assim, ele me obrigou a ficar lá”, apontou a vítima.

Após isso, ele a levou para o quarto e começou a agredi-la. Socos, chutes e puxões de cabelo foram feitos contra a jovem durante a noite toda.
“Ele me chutou, deu tapas e puxões de cabelo…eu tentava correr e fugir, mas ele me puxava pelas pernas. Eu tentava gritar, mas ele tampava minha boca”, disse R. à reportagem do Radar.
Na manhã seguinte ela pediu para ir embora e ele a fez esperar, a fim de que sua mãe a convencesse a não prestar queixas à polícia, porque ele estava preocupado com a reputação nas redes sociais. Com muito lamento, ela conta ao Radar que no momento só queria dormir e descansar, porque tinha passado a noite sem dormir e com dor, e disse a ele que não faria nada.
A mãe dele chegou e fez uma breve repressão ao que tinha feito e disse à vítima que a ajudaria no que precisasse, inclusive a levaria na delegacia. No entanto, momentos depois, na frente da delegacia da mulher, ela questionou se a jovem realizaria a denúncia e disse que isso poderia afetar seu filho de maneira negativa no setor profissional e que ele poderia perder futuramente a carteira de médico veterinário. Após isso, ela só prestou apoio financeiro e sumiu.
Segundo episódio de agressão: medo de exposição
Dois dias depois, quando tudo aconteceu, ela ainda processava o impacto causado pelas agressões e quando o caso era denunciado nas redes sociais, os momentos de terror voltaram.
Na tarde de domingo, ela e o primo estavam em casa quando ela avistou o carro da ex-sogra. No mesmo momento, ela pediu que a porta não fosse aberta para ninguém, mas ainda assim, o primo cedeu para a mãe de Rafael após pedidos de que só seria uma conversa.
“Falei não abre porta, enquanto tentava ligar para amigos irem me ajudar’’.
No mesmo momento que ela entrou na casa, o estudante de medicina veterinária saiu do carro da mãe e já foi para cima de R. novamente a acusando de expor ele porque ela publicou uma hashtag (termo associado a assuntos ou discussões que se deseja indexar em redes sociais, inserindo o símbolo da cerquilha (#) antes da palavra, frase ou expressão) sobre a agressão.
“Ele chegou me empurrado e me apertando. A mãe tentou impedir e dizer para irem embora e ele só riu e começou me bater.

Ele tentou quebrar o meu pescoço me deu chutes e toda vez que o seguravam e eu tentava fugir, ele se soltava e me arrastava pelo quintal de casa”.
Após a série de tentativas de quebrar o pescoço dela, o primo conseguiu prendê-lo dentro da casa e aí ele o agrediu também.
“Pensei que ele ia matar meu primo. Eu precisava fazer alguma coisa”
Com medo de alguma tragédia acontecer, mesmo machucada R. tentou fugir para pedir socorro e foi nesse momento que ele apareceu novamente e bateu com sua cabeça no chão.
“Saí pelo lado de casa e quando abri o portão ele me puxou e me atirou no chão com muita força. Ele pegou minha cabeça, riu e bateu várias vezes no chão dizendo que ia me matar”, conta a jovem.
Pelo fato de ter sofrido agressões na cabeça, a jovem não lembra o que aconteceu depois e só recorda de ter acordado na casa dos vizinhos. Tempos depois, já no hospital, ela foi alertada sobre os perigos das lesões e o médico a alertou que “esses ferimentos configuram tentativa de homicídio”.
Um curto período de tempo depois, ela prestou queixa, fez boletim de ocorrência. Atualmente ela aguarda medida protetiva e sofre com o medo e a insegurança de não saber onde ele está já que, desde o ocorrido, ele está foragido.
O bebê que espera não teve nenhum dano. Entretanto, os estragos físicos e psicológicos são imensuráveis. Após esse episódio de tentativa de homicídio, a vida da jovem nunca mais será a mesma. Ela revela que tem medo de seguir sua vida e ser surpreendida por ele novamente.
“Tenho medo de ele estragar tudo. De eu seguir minha vida e ele aparecer querendo me bater ou me matar. Eu não sei o que esperar”, finalizou.
Feminicídio
A situação de R. é uma realidade que acomete muitas mulheres do Brasil e do Amazonas. O feminicídio, assassinato de mulheres realizados unicamente pela condição de ser mulher, assim como a tentativa dele acontece diariamente contra mulheres que têm suas vidas interrompidas ou atrapalhadas porque homens se sentem no direito de se apropriarem de seus corpos e vida.
Em Manaus, de janeiro de 2020 a maio de 2021, 15 mulheres morreram pelo crime.

Confira o Boletim de Ocorrência do Caso: