Afeganistão: Mulheres são proibidas de aparecer em programas de entretenimento

AFEGANISTÃO – Três meses depois da tomada do poder pelo grupo extremista Talibã, os líderes do país anunciaram um pacote de regras para o setor audiovisual, com restrições severas para as mulheres no Afeganistão.

Elas não poderão mais aparecer em programas ficcionais (como novelas) ou de entretenimento. E as apresentadoras de noticiários ficam obrigadas a cobrir a cabeça com o hijab (véu islâmico). No entanto, poucas continuam no ar.

O conjunto de oito diretrizes foi emitido no último domingo (21), pelo Ministério da Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, e confirma temores de entidades de liberdade de imprensa e de direitos humanos manifestadas há três meses, prevendo a volta da censura aos meios de comunicação.

O ministério acrescentou que filmes em oposição à lei islâmica e aos valores afegãos não devem ser transmitidos, nem filmes estrangeiros e nacionais que “promovam cultura e valores estrangeiros”.

As regras também afirmam que os programas de entretenimento e comédia “não devem ser baseados no insulto aos outros”, nem “para o insulto à dignidade humana e aos valores islâmicos”.

Finalmente, programas de TV retratando os “profetas e companheiros” não deveriam ser transmitidos.

No governo anterior do Talibã, que esteve no poder de 1996 a 2001, a televisão foi proibida, assim como a maioria das outras formas de mídia.

O Talibã tomou o poder no Afeganistão em meados de agosto, quando os Estados Unidos e os aliados ocidentais retiraram suas forças. Mulheres e meninas foram rapidamente instruídas a não irem ao trabalho e à escola, e as restrições às aparições na televisão limitam ainda mais a liberdade das mulheres sob o novo regime.

Quando um grupo de mulheres protestou contra o anúncio do governo exclusivamente masculino em Cabul, em setembro, os combatentes do Talibã as espancaram com chicotes e paus.

Críticas ao Talibã ao vivo

Na véspera das novas regras serem anunciadas, um episódio inusitado aconteceu no país em que a mídia está operando sobre controle estrito. Faizullah Falal, professor de direito na Universidade de Cabul, desafiou o porta-voz do Talibã durante uma entrevista ao vivo no canal Tolo News.

Falando em voz alta e tom irritado, ele reclamou da condução do país, disse que pessoas estão passando fome em Cabul e questionou a liberdade de expressão, para desespero do âncora com expressão de pânico diante do desabafo ao vivo. O vídeo viralizou nas redes sociais.