Sexo oral agora é o principal fator de risco para o câncer de garganta, afirma pesquisador

Brasil – Os cânceres na região do pescoço e da cabeça estão tradicionalmente associados ao tabagismo e ao consumo de álcool. Mas o número de pacientes que chegam aos consultórios com câncer ocasionado por outro motivo está aumentando, alertam médicos. Hoje, entende-se que o HPV, que pode ser contraído por meio do sexo oral e outras práticas, é um dos maiores fatores de risco para o câncer de orofaringe, ou câncer na garganta.

Um artigo publicado nesta semana pelo pesquisador Hisham Mehanna, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, rodou o mundo, com o título “Sexo oral agora é o principal fator de risco para o câncer de garganta” (na íntegra, em inglês). O aumento do câncer de garganta no Ocidente, diz ele, é tão significativo nas últimas duas décadas que alguns pesquisadores o consideram uma epidemia.

Em países mais ricos, como nos EUA, o HPV é responsável por 70% dos casos de câncer de orofaringe. No Brasil, um estudo realizado em São Paulo analisou casos de câncer de orofaringe durante 13 anos, entre 1997 e 2013. Dos 15,4 mil casos, cerca de 38% tinham relação com o HPV.

“O cânceres na região da cabeça e do pescoço sempre foram causados pelo tabagismo e pelo álcool. Mas, na década de 2000, com as campanhas antitabagismo e antialcoolismo, houve redução do vício, o que fez com que a incidência desses cânceres diminuísse. Mas não houve redução do câncer de orofaringe. Aí, começou-se a buscar outras causas para ele e uma delas é o HPV”, explica o cirurgião de cabeça e pescoço da Fundação São Francisco Xavier, braço social da Usiminas, Clineu Gaspar.

O câncer de orofaringe atinge o “fundo da garganta”, logo atrás da cavidade da boca. Ele pode matar e, dependendo da região em que for detectado, prejudicar a voz do paciente, por exemplo. Gaspar explica o mecanismo que vai do HPV ao câncer: “O HPV leva a uma mutação genética nas células daquela região e elas se reproduzem de forma desordenada”.

Toda pessoa com HPV pode ter câncer de garganta?

O professor Hisham Mehanna, citado no início da reportagem, diz que, “misericordiosamente, apenas um pequeno número de pessoas [que praticam sexo oral] desenvolvem câncer de orofaringe. O porquê, entretanto, não é claro”. A teoria mais aceita, diz ele, é que a maioria das pessoas que têm contato com o HPV consegue se livrar do vírus natural e completamente, sem sequer perceber sintomas. A comunidade médica estima que 80% dos adultos sexualmente ativos já tiveram contato com o HPV, porém nem todos desenvolvem a doença.

Quanto mais parceiros sexuais, maior o risco: o artigo de Mehanna cita um estudo de 2007 que demonstra que pessoas com seis ou mais parceiros de sexo oral ao longo a vida são 8,5 vezes mais propensas a desenvolver o câncer do que as demais.

Os sintomas que devem acender um alerta, especifica o cirurgião Clineu Gaspar. “O tratamento precoce é importante para o desfecho da doença. Os sintomas, geralmente, se desenvolvem como feridas ou lesões na amígdala, atrás da língua, no céu da boca ou nódulos, ínguas no pescoço”.

Vacina contra o HPV é ‘vacina contra o câncer’, diz médica

Outras formas de sexo sem proteção, além do oral, são arriscadas e podem ocasionar a infecção pelo HPV. O preservativo é um aliado poderoso contra a doença, mas não é 100% eficaz, lembra a médica Angélica Nogueira, membro da comissão de Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “A transmissão do HPV aumenta quando o preservativo não é usado. Mas mesmo a proteção do genital não é totalmente segura, porque há transmissão pela pele”, pondera. Também não faz diferença, segundo ela, se o sexo oral é performado em um pênis ou em uma vagina.

Por isso, a vacinação contra o HPV na adolescência é a melhor prevenção disponível, defende a médica. Minas Gerais está com baixa procura pela vacina. “A vacina contra o HPV é uma vacina contra o câncer”, sublinha. No Sistema Único de Saúde (SUS), o imunizante está disponível para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e para pessoas transplantadas, pacientes oncológicos e pessoas que vivem com HIV até os 45 anos. A médica lembra que existem vários estudos que comprovam que vacinar os mais novos contra a doença não estimula práticas sexuais de risco.

Nogueira detalha que a resposta imunológica à vacina é melhor nos mais novos e que a vacinação desse grupo é ideal porque os protege antes de iniciarem a vida sexual. Mas adultos também pode se vacinar na rede privada, inclusive aqueles que já tiveram HPV, porque a vacina protege contra vários subtipos do vírus. A média de preço da vacina em Belo Horizonte e região, segundo levantamento do site de pesquisa Mercado Mineiro, é R$ 617,18.

Fonte: O Tempo