Pesquisa do IPAM indica que 55 milhões de hectares podem ser devastados com o ‘Marco Temporal’

Aerial view of an area in the Amazon deforested for the expansion of livestock, in Lábrea, Amazonas state. The Amazon is still covered in smoke and torn by criminal and unrestrained destruction, according to overflights produced by the Amazon in Flames Alliance, organized by Amazon Watch, Greenpeace Brazil and the Brazilian Climate Observatory. The expedition took place between September 13th and 17th, in the cities of Porto Velho (Rondônia state) and Lábrea (southern Amazonas state). Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. A Amazônia segue encoberta pela fumaça e marcada pela devastação criminosa e sem controle. Foi o que comprovaram sobrevoos realizados pela Aliança Amazônia em Chamas, formada pelas organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima. A expedição ocorreu entre os dias 13 e 17 de setembro, nos municípios de Porto Velho, Rondônia, e Lábrea, sul do Amazonas.

BRASIL – O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) estima que até 55 milhões hectares de áreas nativas podem ser desmatadas caso o Projeto de Lei nº 490, do Marco Temporal, seja aprovado no Congresso Nacional. No total, o relatório estima que a medida deve resultar na emissão de até 18,7 bilhões de toneladas de carbono.

Os dados constam em estudo do instituto, divulgado nesta quarta-feira (7/6), data prevista para o julgamento da tese no Supremo Tribunal Federal (STF). Parado na Corte há dois anos, o julgamento do Marco Temporal ocorre em momento de forte tensão dos povos indígenas com o Legislativo.

No fim de maio, o projeto de lei foi aprovado na Câmara dos Deputados, e aguarda tramitação no Senado Federal.

Em síntese, o Marco Temporal reconhece que apenas as terras já ocupadas por povos indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, podem ter sua demarcação reivindicada. A medida é amplamente criticada por defensores da causa indígena, mas conta com apoio da bancada ruralista.

Segundo especialistas do Ipam, a decisão provoca perdas significativas para comunidades originárias, bem como coloca em risco a segurança climática da Amazônia e de todo o país.

“Além de serem totalmente descabidas à luz da Constituição Federal, que protege o direito dos povos indígenas às suas terras, o projeto de lei e a tese do Marco Temporal ainda colocarão em risco o equilíbrio climático da região Amazônica, afetando o país como um todo”, frisa Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam e coordenador do estudo.

“Podemos dar adeus à meta de desmatamento zero do atual governo e ao compromisso do país em reduzir as emissões de carbono. Nos aproximaremos perigosamente do ‘ponto sem retorno’ que dezenas de cientistas vêm preconizando; estas iniciativas esdrúxulas ameaçam a segurança nacional”, prossegue o especialista.

Riscos também para o agro

O avanço da destruição da vegetação nativa, previsto pelo estudo, trará implicações para o regime de chuvas na região, com consequentes alterações nas condições climáticas em todo o país.

Os impactos na agricultura, pecuária e geração de energia poderão ser particularmente relevantes. Efeitos das mudanças climáticas em curso afetam a produção em 28% das áreas agrícolas de soja e milho no centro-oeste brasileiro. Sem adaptação, a porcentagem de agricultura fora do ideal climático no Brasil pode chegar a 50% na próxima década, e a 70%, em 30 anos.

Terras indígenas ocupam apenas 13% do território nacional e são as categorias fundiárias com as menores taxas de desmatamento (< 2%) da Região Amazônica, quando comparadas com o desmatamento em áreas privadas (> 30%), conforme dados do Ipam.

No entanto, de 2019 a 2021, apenas na área da Amazônia, o aumento do desmatamento em terras indígenas foi de 153% em comparação com o triênio anterior.

“O cenário causado, sobretudo, pelo aumento da grilagem e do desmatamento ilegal, poderá se agravar se as alterações na legislação sobre os direitos indígenas forem aprovadas”, avalia Moutinho.

Via: Metrópoles