COP28: Lula prega compromisso ambiental, mas dá “sinais trocados”

Dubai e Brasília – O primeiro dia de participação dos chefes de Estado e governo na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP28), nessa sexta-feira (1º/12), ficou marcado por chamados à ação e avanço em propostas para preservação ambiental. No discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou que demais líderes internacionais cumpram os acordos climáticos firmados.

O petista também ressaltou como as regiões com menos recursos são mais atingidas pelas mudanças climáticas e questionou se as autoridades “estão de fato comprometidas em salvar o planeta”.

Ministros de Lula, como Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Fazenda) apresentaram projetos no eixo temático da conferência, mas especialistas consultadas pelo Metrópoles apontaram “sinais trocados” dados pelo governo.

Enquanto há elogios pela inovação do projeto sobre um fundo de preservação para cerca de 80 países com florestas tropicais (leia mais sobre a proposta abaixo), também existem críticas pela continuidade do Brasil em explorar áreas de petróleo.

“A gente tem visto o Brasil em uma posição bastante ambígua. Ele chega de forma revitalizada à COP, reimplementando a política climática, e lançando medidas de proteção a florestas, entregando resultados importantes de desmatamento. Por outro lado, tem esse movimento de tirar a atenção de sua política energética das fronteiras de petróleo na Amazônia“, avaliou Carolina Jardim, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Para ela, não há como conciliar o combate à crise climática e a exploração do combustível fóssil, especialmente na Amazônia. Ela reforçou o potencial brasileiro de investir em biocombustíveis e transportes renováveis. “É uma contradição crítica [de Lula] e mostra uma inconsistência na política do governo”, destacou.

Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, também apontou “sinais trocados” no país. “Ao mesmo tempo que vemos um movimento na direção certa, você vê no Brasil movimentos na contramão”, analisou. Ela citou o uso indiscriminado do gás natural sem compensação de carbono, bem como tendências de parlamentares.

Projetos em análise

A proposta do governo Lula, apresentada pela ministra Marina, para “floresta em pé” traria recompensa financeira por área de floresta tropical preservada, em vez de carbono emitido no local considerado. As especialistas consideraram a ideia uma inovação.

“O que sempre travou era medir quanto carbono tinha na área, o que é subjetivo, e hectare não é subjetivo. É uma primeira proposta a ser negociada”, disse Rosana.

Carolina explicou o plano como uma forma atrativa de as nações investirem dinheiro de forma rentável, enquanto ajudam na preservação ambiental.

A expectativa é de que o projeto ainda seja avaliado por vários países e entidades antes de ser aprovado ou descartado. Diversos temas são pautados em edições da COP e entram em vigor apenas uma ou duas conferências depois — o fundo para danos e perdas de países vulneráveis pelo clima, por exemplo, entrou em pauta no evento de 2022 e passou a vigorar apenas na COP28.

Aplicar a proposta brasileira em 2025, na COP30, poderia ser positivo para o governo brasileiro, já que essa conferência terá sede em Belém e solidificará a presença do Brasil como ator fundamental na questão ambiental.

Detalhamento de planos

O governo trabalha com o prazo da conferência em Belém para algumas metas, como o Plano de Transformação Ecológica, apresentado pelo ministro Haddad na COP28. Segundo nota da pasta, o programa vai elaborar “quase uma centena de iniciativas” até o evento de 2025.

A proposta de Haddad dialoga com o discurso dele na última semana sobre a Presidência do Brasil no G20, ou Grupo dos Vinte. Para o ministro, é importante colocar o Sul Global, anteriormente chamado de nações em desenvolvimento, como central para enfrentar a crise climática e problemas de desigualdade.

Na COP, o titular da Fazenda deu enfoque à bioeconomia, agricultura e infraestrutura, mas não detalhou a execução. “Nesse panorama mais global, temos de começar a fazer os planos de ação, pensar: qual política e qual setor? Tem de dar para a economia como engajar”, comentou a diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.

“Se ficar só nos conceitos, acaba não virando o que queremos, um desenvolvimento industrial. Indústria mais verde dentro do Brasil é de A a Z, de liquidificador, geladeira, fertilizante a carro de baixa emissão. O próximo plano tem de ter detalhamento”, completou.

Fonte: Metrópoles