Influencer envolvida no esquema do “Jogo do Tigrinho” se entrega

Brasil – A influenciadora digital Noelle Araújo se entregou na Delegacia do Comércio em Belém nesta terça-feira (19), após ser o principal alvo de uma operação da Polícia Civil do Pará. A operação visava prender influenciadores envolvidos em um esquema de jogos de azar, popularmente conhecido como “Jogo do Tigrinho”.

Noelle Araújo ganhou destaque nas redes sociais ao compartilhar sua rotina como profissional do sexo. De acordo com o delegado Walter Resende, ela possui conexões com a casa de prostituição Palazzo, que também foi alvo de buscas e apreensões pela polícia no mesmo dia.

Natural do Pará, Noelle morava em São Paulo e contava com mais de 140 mil seguidores no Instagram. No entanto, seu perfil foi excluído ou desativado. Nas plataformas digitais, a influencer costumava promover jogos de azar, atividade considerada ilegal no Brasil. Ela chegou a organizar eventos de lançamento para tais plataformas.

Os jogos de azar

O projeto de lei das bets aprovado na semana passada pelo Senado para regulamentar o mercado de apostas esportivas de cota fixa não inclui a taxação de cassinos online. A emenda aprovada excluiu do texto a regulamentação da taxação sobre jogos online, ou seja, cassinos, mantendo a taxação apenas para os chamados “eventos reais”, como partidas de futebol ou basquete.

Neste domingo (17), o Fantástico fez uma extensa reportagem falando sobre a Blaze, um cassino online divulgado por influenciadores, e sobre o ‘Jogo do Tigrinho’, nome genérico para uma espécie de caça-níquel que promete ganhos de dinheiro através de jogos de azar.

O problema é que uma das fontes principais de renda da Globo são as casas de aposta, como a Betnacional, que comprou cotas publicitárias para 2023 e 2024 no esporte da emissora. O BBB 23 teve patrocínio da Esportes da Sorte. A Betano fechou um patrocínio no Jornal Nacional. No SporTV, da Globosat, bets dominam os intervalos comerciais há anos. O mesmo em outros canais esportivos e também na internet.

Apenas em cotas anunciadas na imprensa, a Globo faturou pelo menos R$ 240 milhões em 2023 com apenas um contrato – o da Betnacional. Ao todo, somando cotas de televisão de canais abertos e fechados, as empresas despejaram bilhões de reais nas transmissões, nas camisas de time, nos naming rights dos campeonatos.

O problema é que literalmente todas essas bets citadas possuem roletas, caça-níquel, “jogo do aviãozinho” e outras formas de jogo de azar online.

Não é normal que um dos maiores torneios brasileiros de futebol – a Copa Betano do Brasil – tenha nome de casa de aposta com cassino.

A liberação das casas de aposta no Brasil aconteceu às escuras, no meio do governo Temer, com a aprovação da Lei 13.756/18, cujo objetivo era ampliar o dinheiro destinado à segurança pública. Por algum motivo, um artigo que regulava as casas estrangeiras foi inserido na lei.

O vácuo jurídico criado pela lei – que pedia pela regularização das casas – abriu o precedente para que tais empresas também inserissem seus cassinos dentro dos sites.

Além de apostar nos resultados de eventos reais, como jogos de futebol e basquete, os usuários facilmente caem nos jogos de azar completamente eletrônicos.

A banca sempre ganha e o vício caminha lado a lado entre os cassinos e as bets. Desde o ‘Tigrinho’ até a roleta, os jogos online deste tipo são prejudiciais para a saúde financeira. É impossível lucrar a longo prazo. É um crime contra a economia popular.

A nova lei aprovada pelo Congresso que, à revelia do governo, tirou os jogos de azar da taxação, cria mais um novo limbo jurídico em que o jogo de azar seguirá ilegal operando na fachada das apostas esportivas.

E claro, a Globo se beneficia da irregularidade e seguirá sendo patrocinada pelo dinheiro das apostas e dos cassinos. Enquanto o ‘jogo do tigrinho’ vira alvo do Fantástico e da Polícia por enganar milhares de brasileiros com suas promessas de azar, as bets serão televisionadas tranquilamente como se não fizessem a mesma coisa.

Fonte: Revista Fórum