Presidente Lula quer ‘transfigurar-se em crente’ devido à reprovação, afirma Estadão

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da cerimônia de lançamento da nova Estratégia para o Complexo Econômico-Industrial da Saúde, com os ministros Nísia Trindade (Saúde), Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), e Geraldo Alckim. | Sérgio Lima/Poder360 - 26.set.2023

Brasil – Ante à reprovação da população evangélica ao governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu “se transfigurar em crente” e por isso tem se colocado em situações “constrangedoras”. Essa é a avaliação do editorial do Estadão deste domingo (7).

Para o veículo de imprensa, o presidente acha que se “rechear” seus discursos com expressões religiosas atrairá os evangélicos; contudo, essa postura só demonstraria a “ignorância do PT a respeito dos anseios” desse segmento.

– Foi o que se viu na constrangedora missa de quermesse que Lula oficiou num palanque de Arcoverde, em Pernambuco, quando usou inacreditáveis 27 vezes as palavras “Deus” e “milagre”, atingindo a surpreendente marca de uma referência religiosa por minuto em seu discurso – observou o texto O Mistério da Fé Lulopetista.

Nesse sentido, um dos artifícios recentes do governo é adotar uma campanha cujo slogan chama-se “Fé no Brasil”.

– Não se discute aqui a religiosidade presidencial nem a criatividade dos seus publicitários, mas o artificialismo de recém-convertido e a estratégia escolhida para a tal “aproximação com os evangélicos” demonstram que nada entenderam do problema, muito menos das soluções. Pelo que se viu em Pernambuco, Lula e seus apóstolos só reafirmam desconhecimento e preconceito – assinalou o jornal.

Para o periódico, Lula dificilmente se sairá bem-sucedido em “mover as montanhas entre evangélicos tentando credenciar-se como uma espécie de profeta”.

O Estadão diz ainda que os políticos de esquerda tendem a errar ao enxergar o segmento como “uma coisa só” e como “uma outra gente”.

– Não há outro Brasil, à parte do Brasil oficial, tampouco ninguém é apenas evangélico, assim como não é apenas católico nem apenas mãe, pai ou trabalhador. Pensar o inverso é tão enganoso quanto tomar a parte pelo todo. (…) Sem dúvida há uma dissonância de valores entre a esquerda e uma boa parcela dos evangélicos, tradicionalmente mais conservadores em matéria de família, segurança e expectativas de futuro. Mas a dissonância maior tem muito mais a ver com a visão de mundo e de liberdade – acrescentou.

O jornal citou que entre evangélicos as pautas que costumam atrair são valores liberais, empreendedorismo, ascenção pelo trabalho, rejeição ao “Estado glutão e intrometido”, e segurança para suas famílias.

– É difícil acreditar que será a Bíblia a salvar o governo da desaprovação popular. Não há milagre: os evangélicos, a exemplo de tantos outros setores da sociedade, querem facilidade para empreender, escolas eficientes para seus filhos, bom uso dos impostos e segurança para a família – completou o jornal.

O editorial segue a mesma linha de pensamento do doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Vinicius do Valle. Ele frisa que ouvir declarações públicas do presidente sobre Deus é insuficiente para a comunidade evangélica.

– Esse problema [entre governo e evangélicos], que envolve questões estruturais e históricas, não vai ser resolvido com um slogan. Se fosse [uma questão de comunicação], bastava mudar poucas coisas para resolver o problema. Existe uma ala do governo que é negacionista em relação à necessidade de se aproximar desse segmento – observou.

Entre as questões estruturais que afastam os evangélicos do PT, o pesquisador cita como exemplo o “apoio histórico da esquerda à descriminalização do aborto”, além de declarações de aliados do governo que aumentam a tensão com líderes cristãos.

Fonte: Pleno News