
Após anos de uma guerra violenta que deixou centenas de mortos dentro e fora dos presídios, líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) articulam uma trégua inédita.
As facções buscam pressionar o governo a flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF), onde seus principais chefes estão encarcerados sob rígidas restrições. O acordo, costurado desde o ano passado, pode impactar tanto a dinâmica nos presídios quanto nas ruas, reduzindo confrontos entre os grupos.
A reaproximação ocorre em um cenário onde as lideranças estão isoladas em presídios federais de segurança máxima, sem visitas íntimas e com contato restrito a advogados e familiares por parlatórios. Com a perda de comunicação direta com suas redes criminosas, advogados das facções passaram a intermediar estratégias para enfraquecer as restrições do sistema penitenciário.
Monitoramentos já identificaram conversas codificadas e movimentações suspeitas de advogados que atuam em favor dos internos do PCC e CV. Há indícios de uma força-tarefa jurídica entre representantes das duas facções para derrubar restrições impostas pelo governo. Essa articulação também foi detectada em presídios estaduais, incluindo o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
Guerra sangrenta e possível reorganização
Desde 2016, PCC e CV disputam rotas do tráfico e o domínio dos presídios estaduais, espalhando a rivalidade por pelo menos nove estados e causando massacres e atentados. Caso a aliança se mantenha, o tráfico pode se reorganizar, com as facções dividindo áreas de influência em vez de disputá-las com violência, além de abrirem espaço para acordos no mercado ilegal de drogas, armas e lavagem de dinheiro.
Histórico da ruptura
O Comando Vermelho surgiu em 1979 no presídio da Ilha Grande (RJ), enquanto o PCC foi fundado em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté (SP). As facções mantiveram uma aliança estratégica por anos, mas a paz ruiu em 2016 após disputas pelo controle do crime nos presídios.
A guerra foi declarada pelo PCC ao CV após a recusa de um acordo por Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. O conflito resultou em uma escalada de violência, com rebeliões e massacres, sendo um dos episódios mais brutais o massacre de 2017 em Manaus, quando 56 detentos, incluindo 26 membros do PCC, foram assassinados por aliados do Comando Vermelho.





