
Instituições financeiras e de pagamento supervisionadas pelo Banco Central (BC) estão facilitando transações para mais de uma centena de bets ilegais. Levantamento realizado ao longo das últimas duas semanas identificou oito dessas instituições atuando como intermediárias de pagamentos para casas de apostas sem autorização do Ministério da Fazenda.
Entre os nomes envolvidos, estão o FitBank – que tem o JP Morgan entre seus acionistas –, além de Voluti e Microcash.
A investigação identificou 136 sites ilegais que utilizam essas plataformas para receber pagamentos. Para comprovar, foram acessados os endereços, realizados cadastros e simuladas transferências via Pix.
Os sites apresentam indícios evidentes de ilegalidade: prometem bônus de R$ 100 mil, aceitam cadastros com CPFs e nomes falsos (como CPF 000.000.000-00) e até incentivam o uso de VPN para burlar bloqueios.
A Lei das Bets (2023) proíbe que instituições financeiras e de pagamento permitam transações para apostas de quota fixa sem autorização do Ministério da Fazenda. Ainda assim, a atuação dessas empresas tem impulsionado a manutenção e expansão das bets ilegais na internet.
Ministério da Fazenda e Banco Central reagem
O Ministério da Fazenda informou ter notificado 22 instituições financeiras e de pagamento por operarem com apostas não autorizadas e prepara uma portaria sobre o tema.
O Banco Central afirmou que está desenvolvendo ferramentas de fiscalização mais eficazes para impedir que empresas ilegais usem o Sistema Financeiro Nacional.
Como funcionam as bets ilegais
No início do mês, a influenciadora Dayanne Bezerra, irmã da advogada Deolane Bezerra, divulgou no Instagram uma bet ilegal, promovendo ganhos fáceis. Durante um vídeo ao vivo, apostou R$ 8 no “Jogo do Tigrinho” pela BBR Bet e faturou R$ 240 em um minuto, um lucro de 3.000%.
Ao acessar o link divulgado, foi possível notar sinais claros de ilegalidade: o domínio do site terminava em “.com” em vez de “.bet.br”, como exigido pelo Ministério da Fazenda. Além disso, a empresa tem sede na Costa Rica, quando a legislação determina que operem no Brasil.
Para testar, a reportagem realizou um depósito de R$ 20 na BBR Bet via Pix. A transação teve como destinatário a Brapay, empresa que opera a bet ilegal, e como intermediária a Voluti, que se apresenta como “a melhor infraestrutura de pagamentos instantâneos”.
A Brapay possui licença ativa no município de Bodó (RN), que credenciou 38 casas de apostas online mediante pagamento de R$ 5 mil. No entanto, a legislação brasileira determina que apenas União, Estados e Distrito Federal podem conceder esse tipo de licença. O Ministério da Fazenda já notificou a prefeitura de Bodó.
Na quarta-feira (26), uma nova simulação de Pix revelou outra intermediária: a Creditag, cooperativa de crédito sediada em Mineiros (GO), que não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Fraudes e dificuldades na fiscalização
Os sites das 138 bets ilegais identificadas compartilham padrões suspeitos: permitem cadastros falsos, oferecem bônus exorbitantes e utilizam métodos de autenticação fraudulentos.
A Anatel tem dificuldade em derrubar esses sites, já que os criminosos rapidamente criam novos domínios com a mesma estrutura.
O esquema financeiro facilita essa continuidade: mesmo que um site seja bloqueado, os pagamentos seguem inalterados, permitindo a rápida substituição por novas plataformas.
O que dizem as instituições financeiras envolvidas
O FitBank afirmou ser uma instituição regulada pelo Banco Central e que adota rigorosos padrões de compliance, incluindo bloqueio de sites de apostas irregulares e notificação de transações suspeitas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
A Voluti negou operar com bets ilegais, alegando que exigia licenças válidas, mas que encerrou contratos com todas as plataformas de apostas devido à falta de informações sobre controle de geolocalização.
A Microcash também negou envolvimento e disse que, ao identificar transações suspeitas intermediadas por empresas de pagamento, bloqueia contas e faz denúncias às autoridades.
Já a Treeal afirmou seguir rigorosamente as normas do Banco Central e só atender clientes licenciados.







