No espírito dos Brics, o réu Jair Bolsonaro deveria ser imediatamente transferido para a China

Brasil – Em um dos episódios mais bizarros da história do comércio internacional, o presidente Donald Trump anunciou esta semana que tarifas de 50% seriam impostas ao Brasil — um país que possui superávit comercial com os Estados Unidos e é um dos seus mais importantes importadores de café, suco de laranja e petróleo — sob a única condição de que retire as acusações contra o réu criminal, ex-presidente brasileiro e amigo pessoal de Trump, Jair Bolsonaro. Bolsonaro atualmente enfrenta uma possível pena de até 40 anos de prisão por tentativa de golpe militar após perder as eleições de 2022.

Gostaria de sugerir que, no espírito dos BRICS, Bolsonaro seja imediatamente transferido para prisão domiciliar na China, onde poderá aguardar o seu direito democraticamente garantido a um julgamento, que agora entrou em suas etapas finais. Isso pode soar absurdo, e até mesmo uma violação do direito internacional, mas os Estados Unidos nunca foram um país que respeitou o direito internacional, como prova o recente bombardeio ao Irã. Além disso, têm uma longa história de entrar em países latino-americanos para libertar aliados ou prender inimigos.

Em 1983, o governo Reagan invadiu a nação soberana de Granada para ajudar a prender e assassinar seu líder democraticamente eleito, Maurice Bishop, cuja ênfase na soberania nacional incomodava Washington. Em 1989, o governo de George H. W. Bush invadiu o Panamá para sequestrar o líder Manuel Noriega, que, à época, era alvo de boatos de que possuía informações comprometedoras de “armadilhas de mel” dos tempos em que supostamente frequentavam bordéis juntos, durante os anos da CIA do presidente na década de 1970. Em 2016, os EUA enviaram uma força de agentes especiais ao Haiti para sequestrar e prender o recém-eleito líder democrático do Senado, Guy Philippe — uma figura polêmica, no mínimo —, mas em um processo que demonstrou zero respeito pelo direito internacional.

A amizade de Donald Trump com a família Bolsonaro é notória. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, era tão próximo do círculo íntimo de Trump que teria estado presente na reunião do “Conselho de Guerra” de 5 de janeiro de 2021 com Mike Lindell, Rudy Giuliani e outros aliados republicanos, enquanto tramavam um golpe de Estado amador para impedir a posse de Joe Biden.A grande mídia atualmente tenta construir uma falsa equivalência entre a invasão ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 e a invasão aos prédios dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

No entanto, o nível de planejamento por trás da tentativa de golpe no Brasil foi muito mais sofisticado, executado ao longo de três anos e incluindo tentativas de assassinato contra o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.Trechos do relatório final de 234 páginas apresentado pelo procurador-geral Paulo Gonet são destacados em um artigo explicativo que escrevi sobre as acusações contra Jair Bolsonaro e seus cúmplices, em 20 de fevereiro, e que pode ser lido na íntegra aqui. As acusações incluem tentativas de instigar estado de sítio, entregar o governo do Brasil às Forças Armadas e um plano de assassinato contra Lula, Alckmin e Moraes.

Em resumo, o que ocorreu no Brasil em 8 de janeiro de 2023 não foi apenas um chamado pontual de um presidente para que seus apoiadores “invadissem o Congresso”, mas o desfecho de anos de conspiração cuidadosa. Também vale destacar que, ao contrário dos EUA, 21 cabos de transmissão de energia elétrica de alta tensão foram sabotados durante o mês da tentativa de golpe, com o objetivo de provocar apagões e espalhar confusão entre a população.

Considerando o longo histórico de intervenção dos EUA no Brasil — incluindo o apoio ao golpe militar de 1964 e à Operação Lava Jato, que retirou Lula das eleições de 2018 e abriu caminho para a presidência de Bolsonaro —, o risco de uma operação de resgate por forças especiais norte-americanas ou de uma incursão militar não pode ser subestimado. Por isso, faço um apelo para que a China extradite imediatamente Jair Bolsonaro para um local seguro, onde ele possa ser julgado com segurança e exercer os direitos democráticos que tentou negar ao presidente Lula.