
O combate ao desmatamento na Amazônia tem um efeito colateral positivo: a redução da violência. Um estudo do projeto Amazônia 2030, publicado nesta sexta-feira (28/11) e obtido com exclusividade pela DW, aponta que municípios com maior fiscalização ambiental registram queda de 15% na taxa de homicídios em comparação à média regional — o equivalente a 1.477 vidas preservadas por ano.
A pesquisa, conduzida pelo economista Rafael Araújo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), analisou dados de homicídios entre 2006 e 2016 e do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe. Durante esse período, enquanto a taxa nacional de homicídios cresceu 8%, os municípios da Amazônia registraram aumento de 57,3%, principalmente em zonas rurais distantes de grandes cidades, próximas a terras griladas, áreas de desmatamento e garimpo ilegal.
O estudo utilizou um “experimento não intencional”: em anos com maior cobertura de nuvens, o Deter detectava menos desmatamento, reduzindo as multas aplicadas e permitindo comparar municípios similares com diferentes níveis de fiscalização. Os resultados mostraram que, quando um município passa de baixa para alta fiscalização, a taxa de homicídios pode cair até 20,7% em relação à média regional.
Segundo Araújo, o efeito se explica pelo aumento da presença do Estado e pela redução das disputas territoriais e do desmatamento especulativo — fatores que frequentemente desencadeiam violência letal. “Reduzir a impunidade aumenta os riscos para redes criminosas ligadas ao desmatamento, madeira e garimpo, desincentivando o uso da violência como mecanismo de controle”, afirma o pesquisador.
Os municípios de Altamira e Novo Progresso, no Pará, são exemplos críticos, com altas taxas de homicídio e avanço do desmatamento. O procurador da República Igor Goettenauer de Oliveira explica que os homicídios na Amazônia estão ligados a um conjunto de crimes ambientais, incluindo grilagem, invasão de terras públicas, atuação de milícias rurais e expulsão de moradores. A logística precária e a vasta extensão territorial dificultam a presença estatal, tornando operações contínuas essenciais.
O estudo também desafia a ideia de que a fiscalização ambiental prejudica o desenvolvimento regional. Ao contrário, o desmatamento ilegal está associado a violência, corrupção e captura política, comprometendo a economia local. Muitos envolvidos em atividades ilegais buscam influência política, reforçando redes de impunidade.
Araújo ressalta que a redução da violência e do desmatamento precisa ser acompanhada de políticas públicas e alternativas econômicas que ofereçam oportunidades para jovens, principalmente homens pobres e negros, construírem novas trajetórias. Para os pesquisadores, fortalecer a fiscalização ambiental é uma ferramenta estratégica não apenas para preservar a floresta, mas também para tornar a Amazônia mais segura e sustentável.




